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Da Cave da Dona Matilde

Foi no ido ano de 1927 que Manuel Moreira de Barros adquiriu a Quinta do Enxodreiro também conhecida com Quinta de Bagaúste devido à toponímia da sua localização. Era uma das quintas pertencentes à demarcação original do Douro classificada com letra A, a mais alta classificação da Região Demarcada do Douro. A propriedade encontrava-se em ruínas e Manuel Moreira de Barros recuperou-a e deu-lhe o nome de Dona Matilde, a sua esposa. Sete anos antes, Manuel Moreira de Barros tinha entrado como sócio na firma Almeida em Comandita do seu cunhado Manuel de Almeida dando origem à Barros, Almeida & Cª que por sua vez foi a base do Grupo Barros do qual também vieram a fazer parte entre outras empresas como a Kopke.

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Por esta via a família Barros manteve uma ligação de décadas ao Douro tendo quatro gerações de produção de vinhos do Porto e do Douro. Depois da venda do Grupo Barros à Sogevinus em 2006 o patriarca da família, Manuel Ângelo Barros, sentiu falta da vindima e do Douro e começou à procura de uma propriedade no Douro que lhe permitisse manter uma ligação ao Douro. Por sugestão da sua esposa acabou por sondar a Sogevinus com o objectivo de comprar de volta a quinta que tinha o nome da sua avó. A Sogevinus acedeu à solicitação de Manuel Ângelo de Barros que readquiriu a propriedade ainda antes de terminar o ano de 2006. Desde 2007 que juntamente com o seu filho Filipe Barros tem feito crescer o projeto Dona Matilde.




Em Março passado realizou-se a apresentação das últimas colheitas da Quinta Dona Matilde na Cave 23, o restaurante do Torel Palace, cuja cozinha é liderada pela jovem chef Ana Moura e do qual me vinham chegando boas indicações desde há alguns meses. Em regime volante provou uma bem conseguida Sopa de Peixe servida num pequeno copo onde o picante lhe dava comprimento de boca sendo este picante muito bem mediado pela doçura da mousse de coco.






Começamos pelo Dona Matilde Branco 2015 que se mostrou amarelo claro ligeiramente esverdeado e aromas a capim e relva. Boa acidez, ligeiro vegetal a dar-lhe frescura e um bom comprimento de boca. Já o 2014 revelou-se amarelo claro e mais fechado de aromas que o 2015 embora algumas flores brancas sobressaiam um pouco. Acidez ligeira mediada por alguma untuosidade a dar-lhe corpo mas tirar-lhe algum comprimento na boca. Pareceu-me estar numa fase algo intermédia já se notando alguma complexidade por via da evolução mas a parece-me precisar de mais algum tempo de garrafa para se poder afirmar como um vinho com alguma evolução.




O Dona Matilde Branco 2015 acompanhou a Perdiz, que estava bem conseguida em termos de sabor com uma acidez bem interessante que parecia vir do vermute e um jogo de sabores bem interessante entre a gema de ovo e as sementes de girassol. Pecava um pouco por alguma secura e achei o empratamento pouco cuidado. Seguiu-se o Pregado que mostrava um equilíbrio muito interessante entre os crocantes da pele do peixe, o peixe propriamente dito, a mousse de figado e a acidez e doçura do maracujá que ligava muito bem com o peixe e cortava a gordura da mousse fígado. Alguns dos pedaços do pregado talvez pudessem beneficiar de um ponto mais ligeiro mas não deixava por isso de ser um grande prato.



No campo dos tintos começamos pelo Dona Matilde Tinto 2011 que se revelou granada com ligeiros laivos violeta quase opaco, fechado de aromas, a revelar alguma fruta e algum químico. Boa acidez, taninos finos mais ainda algo rebeldes mas a indicar potencial para crescer em termos de elegância. Perfil ainda muito jovem, não mostrando os 4 anos que já tem. Também o Dona Matilde Reserva Tinto 2011 se revelou granada com ligeiros laivos violeta quase opaco mas um pouco mais expressivo no nariz com notas químicas, minerais, balsâmico complementadas com alguma esteva e ginja. Boa acidez com taninos elegantes a secar a boca de maneira muito elegante e com grande potencial de evolução. Já é um grande vinho embora me pareça poder ganhar mais algum tempo para acabar de polir os taninos.



Como prato principal de carne tínhamos o Leitão. Eu gosto muito de leitão mas confesso que começo a ficar um pouco enfadado com esta coisa de todo o chef ter de ter a sua interpretação de leitão. No entanto este leitão da Ana Moura estava verdadeiramente interessante, com sabores muito autênticos com o picante a prolongar-se na boca bem mediado pelo ruibarbo que com a sua acidez e frescura fazia aqui o papel que é normalmente desempenhado pela laranja.


Historicamente um dos pontos fortes da Barros sempre foram os Portos Colheitas e a família Barros pretende continuar este legado com a produção de Porto Colheita sob a marca Dona Matilde como é este Dona Matilde Porto Colheita 2008. Mostra ainda um cor de Tawny jovem entre o granada e o cobre translúcido sendo o nariz também ainda um pouco atípico para um colheita com notas jovens frutadas com a ginja a dominar casadas com notas de evolução onde domina o caramelo. Boa acidez a dominar a doçura e dar-lhe comprimento de boca e frescura. Muito interessante e curioso este colheita. No registo vintage provou-se ainda o Dona Matilde Porto Vintage 2011 que se mostrou granada com laivos violeta e com um nariz dominado por aromas químicos, balsâmicos e violetas. Boa acidez e taninos ainda bem presentes mas já a mostrar elegância.


Terminámos com o Chocolate Branco, um sobremesa que tinha alguns pormenores curiosos em termos de textura e combinação de sabores mas que tinha no pesto de manjericão um componente que não me pareceu resultar tanto em termos de sabor como de textura e que acabou por me impedir de apreciar os restantes elementos da sobremesa.


Os vinhos Dona Matilde são o reflexo da larga experiência da família Barros e de um terroir de excelência em que as vinhas mais novas têm 18 anos e as mais velhas chegam aos 80. São vinhos bastante elegantes que parecem ter um grande potencial de longevidade.


A Ana Moura na Cave 23 mostrou-se mais uma grande promessa da nova geração da cozinha portuguesa. Combinações de sabores bem interessantes usando ingredientes menos óbvios para conseguir algumas ligações que, bem vistas as coisas, até seriam quase clássicas. Há alguns pormenores a corrigir mas cumpriu as expectativas que tinha e certamente valerá bem a pena manter debaixo de olho (ou debaixo de língua) o trabalho da Ana Moura.

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