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Colares em Seteais

Colares é uma daquelas regiões de vinhos ímpares. Delimitada a sul pela Serra de Sintra e a ocidente pelo Oceano Atlântico abrange 3 freguesias do concelho de Sintra: Colares, São João das Lampas e São Martinho. Há dois tipos de vinhas nesta região conforme a sua implantação: as chamadas de chão de areia e as chamadas de chão rijo. Nas de chão de areia a vinha é implantada em solo arenoso e conduzida junto ao solo de acordo com a tradição da região. Nas de chão rijo os solo são argilo-calcários e a condução da vinha é feita segundo as técnicas mais habituais. Mas aqui do que se vai falar é do vinho produzido em chão de areia dado que para ser DOC Colares pelo menos 90% das uvas tem de ser provenientes de chão de areia e somente o restante pode ser de chão rijo.

Colares em Seteais  - reservarecomendada.blogspot.pt

São vinhas implantadas nas dunas que para se protegerem dos ventos marítimos são conduzidas junto ao solo e protegidas por paliçadas de canas criando uma paisagem verdadeiramente única. Os solos arenosos protegeram estas videiras da filoxera e por isso ainda hoje as videiras estão plantadas em pé-franco sem a necessidade de ser enxertadas em porta-enxertos resistentes a esta praga que quase dizimou a vinha em todo o mundo. Durante o século XX, a pressão imobiliária quase fez desaparecer estas vinhas. Nos últimos anos a área plantada em chão de areia deverá ter crescido ligeiramente e deverá andar à volta dos 25 hectares. Toda esta singularidade dá origem a vinhos únicos com uma grande longevidade e onde o sal dos ventos marítimos se sente na boca ao provar estes vinhos. Neste momento há seis produtores/engarrafadores embora somente dois deles vinifiquem autonomamente, sendo a produção dos restantes produtores vinificada na Adega Regional de Colares. Por tudo isto foi com grande expectativa que fui à terceira edição do Almoço de Colares.


O Almoço de Colares é uma iniciativa da Câmara de Sintra e dos Vinhos de Lisboa com o objectivo de divulgar o vinho de Colares. Tem-se realizado de dois em dois anos no Palácio de Seteais desde 2010. Este evento divide-se em dois momentos sendo feita primeira uma prova das colheitas mais recentes seguido de almoço harmonizado com vinhos de Colares, alguns deles raridades provenientes do espólio da Adega Regional de Colares. A coordenação destas provas e harmonização com o menu de almoço esteve a cargo do enólogo Aníbal Coutinho enquanto o menu foi da responsabilidade de Luís Baena.


Começou-se pelos brancos com a prova de cinco brancos de 2011 e 2012. Os brancos de Colares para serem DOC têm de ter um mínimo de 80% de Malvasia Fina e o estágio mínimo deverá ser de 6 meses de barrica e 3 de garrafa. Aqueles que acham que os brancos têm de ser bebidos até ao final do ano seguinte à colheita não vai ter muita sorte por aqui pois será raro que um branco de Colares seja colocado no mercado no ano seguinte à colheita. Foram provados o Casal de Sta Maria Colares Malvasia 2011, o Fundação do Oriente Colares Branco 2012, o Viúva Gomes Branco 2011, o Arenæ Malvasia 2011 e o Monte Cascas Malvasia de Colares 2011.


O Casal de Sta Maria Colares Malvasia 2011 apresentava-se dourado claro com aromas a iodo com alguns espargos. Com muito sal na boca, bastante fresco com algum vegetal e uma acidez não muito intensa mas que perdura na boca. Vai ter uma vida longa mas pode já bastante prazer a beber.

O Fundação do Oriente Colares Branco 2012 também dourado claro mas um pouco fechado de aromas. Mineral com ligeiros aromas químicos. Boa acidez, algum vegetal que o torna muito fresco. Parece-me vai ganhar com algum tempo em garrafa.

O Viúva Gomes Branco 2011, dourado claro e um pouco fechado de aromas, aparenta alguma doçura no nariz deixando também revelar alguns frutos secos e um ligeiro petróleo. Revela o sal na boca, com boa acidez e ligeiro vegetal. Vai beneficiar de algum tempo em garrafa, tento evoluído bastante no copo durante a prova.

O Arenæ Malvasia 2011, dourado claro e fechado de aromas. Algum químico e ligeira redução sem prejudicar muito, deixando revelar alguns aromas tropicais um pouco tímidos. Acidez ligeira, também um pouco tímido na boca a deixar revelar citrinos verdes e algum vegetal. Pareceu-me precisar de algum tempo para se revelar completamente.

Finalmente o Monte Cascas Malvasia de Colares 2011 também dourado claro, com aromas a flores brancas e iodo. Acidez ligeira, algum vegetal e muito mineral na boca. Está muito bom e tem potencial para se tornar num vinho ainda maior. Mas será que algumas das menos de mil garrafas produzidas resistirão o tempo suficiente para que isto se possa provar?


Relativamente aos tintos também foram provados 5 cinco vinhos embora num alinhamento diferente de produtores entrando o Chittas para o lugar do Monte Cascas. Os tintos eram maioritariamente da colheita de 2006 com uma excepção da colheita de 2009. Os tintos de Colares para serem DOC têm de ter um mínimo de 80% de Ramisco e o estágio mínimo deverá ser de 18 meses de barrica e 3 de garrafa. Foram provados o Fundação do Oriente Colares Tinto 2009, o Casal de Sta Maria Colares Ramisco 2006, o Viúva Gomes Tinto 2006, o Arenæ Ramisco 2006 e o Colares Chitas Tinto 2006.


Começamos pelo Fundação do Oriente Colares Tinto 2009 que se apresentava granada translúcido com laivos violeta e ligeiramente baço. No nariz apresentava uma ligeira terra molhada, alguma fruta e ligeiro verniz e animal. Taninos ainda um pouco vivos mas secos a apimentar a língua. Interessante mas ainda um pouco novo.

Já o Casal de Sta Maria Colares Ramisco 2006 mostrava-se granada translúcido com laivos atijolados. No nariz a terra molhada dominava com um ligeiro animal e alguma cola sem incomodar. Boa acidez com os taninos já arredondados e elegantes. Alguma fruta estando pronto a beber embora a sua longevidade esteja assegurada.

O Viúva Gomes Tinto 2006 também se mostrava granada translúcido com laivos atijolados. No nariz, uma ligeira terra molhada, alguma fruta e verniz. Na boca tem ainda muita fruta com uma boa acidez, algum vegetal e taninos elegantes embora ainda com alguma exuberância. Incrivelmente ao fim de 8 anos ainda me parece um pouco rebelde e dar-lhe-ia mais algum tempo de garrafa.

O Arenæ Ramisco 2006 continuou num registo granada translúcido com laivos atijolados. No nariz mostra-se mineral com ligeiros frutos vermelhos e ligeiro verniz. Um pouco fechado na boca mas estruturado com o vegetal já domado que lhe vai dar longevidade.

Finalmente o Colares Chitas Tinto 2006 mostrava um pouco mais escuro que os restantes mas também num registo granada ligeiramente acobreado. Mineral no nariz com um ligeiro verniz. Muito elegante na boca com a acidez a garantir-lhe longevidade. Os taninos ainda algo vivos mas dão-lhe algum picante.


Após esta prova fez-se uma pequena pausa antes do almoço onde foi possível voltar a provar alguns dos vinhos num ambiente mais informal aos quais se juntou um intruso com bolhinhas vindo também de Lisboa mas não de Colares, o espumante Stanley Rosé 2009. Bem interessante por sinal, seco e com bolha fina. O primeiro prato da refeição terá aquele que gostei, as Vieiras Grelhadas, Chips de Xerovia, Maionese de Wasabi. Vieiras no ponto e muito bem acompanhadas pelos chips de xerovia que estavam verdadeiramente viciantes. A Xerovia é uma raiz cultivada na Beira Interior que tem a forma de uma cenoura e a cor de um nabo e cujo sabor é uma mistura dos dois mas normalmente mais intenso. Um prato bem conseguido onde só achei que as fatias de bacalhau fumado que estava no prato não acrescentavam muito ao prato. Foi bem acompanhado pelo Casal de Sta Maria Colares Malvasia 2011.


Seguiu-se o Salmonete Corado, Manteiga de Vinho Tinto, Arroz Cremoso de Algas onde o arroz cremoso brilhava quase ofuscando o salmonete. Este prato foi acompanhado por dois vinhos o Bucelas & Colares Edição do Centenário 2007 e o Viúva Gomes Tinto 1934. O Bucelas & Colares Edição do Centenário 2007 foi lançado para comemorar os 100 anos destas duas regiões e é um velho conhecido do qual tinha comprado uma garrafa numa visita que tinha feito há uns anos à Adega Regional de Colares. Na altura gostei bastante dele. Agora apresentava uma cor dourada com frutos secos, madeira e espargos no nariz. Menos acidez do que esperaria o que o tornava um pouco mortiço. Um bom vinho mas acabou por ficar um pouco aquém das expectativas. Fiquei na dúvida se lhe demos o tempo suficiente para eventualmente crescer no copo. Mesmo assim acabei por achar que ligava melhor com o prato do que o Viúva Gomes Tinto 1934.


É sempre com expectativa que se prova um vinho com 80 anos e obviamente esta ocasião não foi excepção. Mostrava cor surpreendentemente jovem ainda granada com laivos acobreados enquanto no nariz se mostrava algo sujo com alguma terra molhada, um pouco animal, algum mofo e um ligeiro vinagrinho. Era surpreendente a sua acidez que no entanto estava um pouco desacompanhada faltando já algum corpo. Acabou por não conseguir cumprir as expectativas apesar de ser de qualquer maneira surpreendente pela sua idade. Pareceu-me que ligava melhor com o prato de carne, com o qual também foi harmonizado, do que com o prato de peixe.


O Chaçaço de Porco com Alcachofras, Lasanha de Cogumelos não foi totalmente consensual pois estaria demasiado passado para a maioria dos que partilharam a mesa comigo. Apesar da minha tendência para preferir o mal passado e de a minha impressão inicial também ser essa acabei por gostar do ponto da carne, pois sendo porco e sendo uma carne um pouco mais gordurosa o ponto usado acabava por funcionar muito bem deixando a carne bastante saborosa com um ligeiro caramelizado na sua superfície. O que não me pareceu resultar foi a alcachofra que ficou um pouco fibrosa tornando difícil a sua abordagem. Neste prato o Colares Chitas Tinto 1995 juntou-se ao Viúva Gomes Tinto 1934. O Colares Chitas Tinto 1995 mostrava-se granada acobreado translucido com um nariz muito fechado com algum vinagrinho e notas de café. Acidez presente e ainda alguns taninos mas também a faltar-lhe algum corpo para lhe dar estrutura. Pareceu-me harmonizar ligeiramente melhor com o prato de carne do que o Viúva Gomes Tinto 1934.


Terminamos com a Mousse de Chocolate, Laranja Confitada, Pipocas com Caramelo Salgado. No geral achei a sobremesa agradável embora me parecesse que tinha demasiados elementos dispersos. A laranja falava alegremente com a mousse de chocolate a explorar uma ligação clássica mas depois não percebi bem a razão para haver no prato chocolate em duas formas e as pipocas apesar de introduzirem um crocante no prato pareceram-me um pouco de costas voltadas para o resto do prato. Para acompanhar a sobremesa veio um vizinho de Carcavelos sobre a forma de uma amostra de casco do Conde de Oeiras. Um lote com uma idade média de 10 anos fortificado com aguardente da Lourinhã, também ela uma sub-região dos Vinhos de Lisboa. Apresentava-se dourado alaranjado, enquanto no nariz se notavam nozes e laranja. Boa acidez embora andassem por ali alguns aromas de redução que me prejudicaram a prova. Espero que com o tempo esta redução venha a desaparecer. Conseguiu acompanhar bem a sobremesa embora me parecesse-se que pudesse ligar melhor com uma sobremesa com mais fruta, ovos ou amêndoa.


Nunca tinha tido a oportunidade de provar a cozinha do Luís Baena e gostei do menu sendo o nível elevado como seria de esperar. Achei no entanto que em todos os pratos havia um ou dois componentes que pareciam um pouco orfãos no prato, que se poderiam retirar sem que se notasse a sua falta. Penso que esta síntese poderia tornar o conjunto mais harmonioso e os pratos mais focados.


Esta prova e o almoço que se seguiu veio antes de mais confirmar que, apesar da reduzida produção, a qualidade e longevidade dos vinhos de Colares continua presente e que vale bem a pena sair da nossa zona de conforto para provar vinhos diferentes e únicos como são estes.

O que Faço Hoje Para Jantar? - www.wook.pt

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