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Pela Calada da Herdade

Quando o sol de Primavera deu os primeiros ares da sua graça tive a oportunidade de visitar a Herdade da Calada. Eu já conhecia o nome da Herdade da Calada pois ainda com os proprietários anteriores foi ali que foi vinificado o primeiro vinho da Herdade das Barras que viria a ter para mim um significado especial. Atualmente a sob uma gestão diferente terão existido algumas alterações no rumo e na estratégia seguida continuando a ser um projeto a seguir com atenção embora provavelmente por razões um pouco diferentes.

Pela Calada da Herdade - reservarecomendada.blogspot.pt

A Herdade da Calada foi fundada em 1854 pelos descendentes do Duque de Lencastre sempre tendo tido uma forte componente agrícola. Em determinada altura a vinha terá sido um campo de ensaios da Universidade de Évora com numerosas castas plantadas. Quando passou para o domínio privado, as cepas originais foram enxertadas pelo método de borbulha permitindo a restruturação de vinha com um menor número de castas organizadas em talhões como é normal numa vinha moderna. Atualmente a área ocupada pela vinha é de 35 hectares mas nem só de vinha vive esta propriedade agrícola sendo 110 hectares afetos ao olival e 60 hectares a cereais, já para não falar dos 215 hectares de montado sendo feita também criação de gado.


Uma belíssima barragem e pequenas represas permitem suprir as necessidade de água para rega da propriedade além de servir de suporte à componente enoturística da herdade. A unidade de enoturismo dispõe de 3 quartos duplos dispondo de serviço de pequeno-almoço e refeições tradicionais feitas pela caseira da herdade (com encomenda prévia) a partir de produtos cultivados e colhidos na propriedade, e outros da região, como as carnes e os queijos tradicionais.


Fomos recebidos no Miradouro pelo enólogo da Herdade da Calada, Eduardo Cardeal. O Miradouro é um ponto elevado sobranceiro à barragem onde foi instalado um deck de onde se proporciona uma vista maravilhosa sobre a barragem e sobre a herdade. O dia estava primaveril com sol a dar o ar da sua graça e único senão era um ligeiro vento mais fresco que se tinha levantado nesse dia. Foi por aqui que provamos os brancos e rosés da casa. Começamos pelo fresco e bem conseguido Vale da Calada Branco 2013. Continuamos com o Caladessa Branco 2013 que era a grande novidade do dia e que se mostrou muito interessante, fresco com notas tropicais algo exuberantes e uma boa acidez. Achei um pouco exuberante demais fruto da sua juventude. Para o meu gosto pessoal ainda precisava de mais algum tempo de garrafa mas tem já um perfil que agradará bastante à maioria dos consumidores. De referir que passadas algumas semanas desta visita este vinho ganhou a prova Vestigius Top Wines na categoria de vinhos brancos.


Achei um pouco ambivalente a abordagem às castas brancas tradicionais do Alentejo, se por um lado a aposta de parece centrar-se nas castas não autóctones como o Alvarinho, o Arinto e Fernão Pires que serviam de base ao Caladessa, por outro o branco topo de de gama da casa, o Baron de B Reserva, continua a ser um estreme de Antão Vaz. Este Baron de B Reserva 2012 foi mesmo o meu preferido ao juntar alguma untuosidade e complexidade a um conjunto que não deixava de ter uma boa acidez. Talvez o facto de ser um 2012 também tivesse contribuído para a minha preferência por ele. Uma boa surpresa foi o Vale da Calada Rosé 2013 que é feito para ser um rosé a serio não para ser um refresco docinho. Boa acidez a dar-lhe frescura e com um aroma que me faz lembrar coentros e que gostei muito. A cor era um rosa pálido bem elegante a contrastar com alguns rosés mais carregados que por aí andam.




Após isto seguimos a pé pelo montado tendo-se aproveitado para tentar apanhar alguns espargos. Há uma história mítica que diz que há muito tempo atrás eu até me safava muito bem a apanhar espargos. Mas não consegui confirmar esse mito não tendo a minha colheita passado de dois ou três espargos. Certamente os espargos da Herdade da Calada são bem bravos e fugiam a sete pés à nossa passagem. Só assim consigo explicar tal desaire... Por outro lado o Guilherme que andou a apanhar espargos com os avós nesse mesmo dia a uns quilómetros dali parece que apanhou mais do que eu... Passou-se junto à barragem e atravessou-se a vinha até chegarmos ao monte da herdade.




No monte tínhamos a mesa posta com a refeição preparada pela caseira com produtos da herdade para ser acompanhada pelos vinhos tintos da Herdade da Calada. Eu que apesar da minha raiz alentejana não sou grande fã de beldroegas acabei por gostar da sopa de beldroegas que foi servida, pois não tinha a overdose de beldroegas que é habitual na casa dos meus pais. As migas de espargos com carne do alguidar tinham uma apresentação um pouco diferente daquela que é habitual na casa dos meus pais, sendo os espargos reduzidos a puré dando assim uma cor verde às migas. Estavam boas em termos de sabor embora eu prefira com os espargos em pedaços pois isso dá alguma textura adicional às migas.



Relativamente aos vinhos tintos, uma linha condutora que parece atravessar a gama da Herdade da Calada é não renegarem a sua origem alentejana mostrando taninos aveludados mas conjugando isso com uma boa acidez e um perfil bastante elegante. E foi assim que começamos com o Caladessa Escolha Tinto 2012. Continuámos com o Herdade da Calada Touriga Nacional Syrah 2010 que gostei bastante por já ter tido tempo para pensar na vida em garrafa e que me pareceu ser bastante representativo do perfil da casa. A Touriga Nacional dava o ar da sua graça sem se impor e o Syrah que parecia dominar o lote dava-lhe aqui alguma complexidade por via um ligeiro toque animal. Seguiu-se aquele que seria a maior novidade de entre os vinhos tinto à prova, o Block nº3 2012. Um vinho com grande potencial que eu achei ainda a debater-se com a sua própria juventude embora essa irrequietude já possa ser boa companhia à mesa. Talvez devesse ter tido um pouco mais de paciência com ele e ter-lhe dado mais algum tempo no copo. Este vinho conseguiu um honroso 3º lugar na categoria de tintos do Vestigius Top Wines o que confirma o meu desalinhamento com a preferência generalizada pelos vinhos mais novos. Tenho por aqui uma garrafa e quero ver se o deixo sossegado por uns tempos para o provar com mais uns anos em cima. Se ele envelhecer tão graciosamente como o 2007 que nos foi dado a provar para fechar o alinhamento dos tintos então certamente valerá a pena esperar.


Juntamente com as sobremesas provamos o Clemente de B, um moscatel alentejano do qual inicialmente duvidei pois temi que pudesse ter um perfil semelhante aos moscatéis jovens e de planície. Mas não... Sendo diferente dos moscatéis da serra da Arrábida, pareceu-me ter um pouco mais de doçura mas uma doçura bem equilibrada pela sua acidez. Muito exuberante aromaticamente sem se tornar enjoativo com a laranja e casca de laranja a deixarem uma marca indelével. Uma boa surpresa.


A Herdade da Calada mostra um grande potencial tanto em termos de vinhos como em termos de enoturismo e não parece que lhe esteja a ser dada a atenção merecida em Portugal. Aliás uma importante parte da sua produção tem como destino a exportação. Um aspeto que talvez mereça alguma revisão é a estrutura de marcas e referências. Parecem-me existir demasiadas marcas, sub-marcas e referências sem ser muito claro o posicionamento no mercado ou conceito por detrás de cada uma destas marcas. Nos próprios rótulos nota-se alguma hesitação e dependendo dos anos é dado mais destaque à marca principal Herdade da Calada e noutros às sub-marcas como Caladessa ou Block Nº 3. Ou como nos rótulos dos Vale da Calada em que é dado quase o mesmo destaque à marca principal Herdade da Calada. Isto será um pormenor que não terá impacto na qualidade dos vinhos produzidos mas se corrigido que poderá ajudar a criar uma maior ligação entre marca e os consumidores. Fiquem avisados vale bem a pena fazermos silencio e provar estes vinhos pela calada.

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