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A Cerveja Preta da Rodada

Uma das questões mais cruciais para qualquer adulto em Portugal e que fraciona a sociedade portuguesa é a pergunta: Sagres ou Super Bock? A esta pergunta sempre respondi convictamente: Sagres. Um pouco contra-corrente pois a Super Bock sempre foi percebida pela minha geração com tendo um perfil mais jovem e a Sagres como a cerveja dos cotas. Mas sendo a Sagres um pouco mais amarga e seca sempre me encheu mais as medidas.

A Cerveja Preta da Rodada - reservarecomendada.blogspot.pt

Para complementar isto, como eu sou um gajo que tem a mania de ser do contra, desde muito cedo aproveitava o facto de o Senhor Zé ter tido durante muito tempo imperial preta da Sagres no Papagaio para exercer a minha autodeterminação. A minha maneira de ser a ovelha negra do rebanho passava por beber a cerveja preta da rodada. Naquele tempo das duas marcas principais só a Sagres tinha preta e lá no Pagagaio quando o barril era novo e máquina estava afinada até num copo de plástico sabia fenomenalmente bem. Com a Sagres Preta apurei o meu gosto pelas cervejas mais amargas. Passados uns anos a Super Bock aparecia com a Stout como se fosse uma grande novidade mas não conseguiu resistir a fazer o mesmo que fazia na branca e deixa-la um pouco mais docinha.

Entretanto provei muitas outras cervejas dentro e fora de portas, visitei a Heineken Experience, a Guinness Storehouse (2 vezes...), o Carlsberg Museum, aventurei-me com sucesso a fazer cerveja em casa a partir de kits que o Fernando vendia e que passei a comprar aos Três Cervejeiros, conheci as Weissbiers e as Blanches... Quando me convidaram para visitar a Central de Cervejas eram quase como regressar a casa, uma casa que não conhecia mas uma casa de onde tinha saído uma parte considerável da minha dieta liquida das noites de 6ª e Sábado à noite. Uma dieta rica em cereais...


A Central de Cervejas surgiu em 1934 da associação da Portugália, Estrela, Jansen e da Companhia de Cervejas de Coimbra sendo a Trindade integrada nesta associação um ano mais tarde. Em 1940 por ocasião da Exposição do Mundo Português é criada a marca Sagres inicialmente destinada à exportação. Logo no ano seguinte é criada a marca Imperial que viria a consagrar-se como o nome dado à cerveja de barril e que viria a espalhar-se por quase todo o país com exceção do norte de Portugal. O nome Imperial mostra a grande influencia alemã na cerveja portuguesa do final do século XIX e inicio do século XX sendo habitual as cervejeiras terem mestres cervejeiros alemães. A Portugália teve mesmo, até à entrada de Portugal na 1ª Guerra Mundial em 1916, o nome de Germânia.

Um dos grandes momentos da história mais recente da Central de Cervejas foi a construção e inicio da produção na fábrica em Vialonga em 1968. A fábrica da Vialonga é um projeto do arquiteto Eduardo Iglésias com o qual colaborou o artista plástico Eduardo Nery. São da autoria de Eduardo Nery a fachada maior da fábrica, os pavimentos a preto e branco no interior da fábrica, a decoração em faixas horizontais nas paredes do edifício dos silos e ainda um projeto desenhado para uma das casas de caldeiras.


Fomos recebidos por Nuno Pinto de Magalhães (Director de Comunicação), Maria José Sousa (Mestre Cervejeira), Luis Cardoso (Média Digital), Paula Portugal (Relações Públicas) e ainda Tiago Ferreira e Mariana Azevedo e Silva da Cunha Vaz & Associados, empresa que trabalha com a Central de Cervejas na área de Comunicação e Relações Públicas. Passamos junto à zona de brassagem onde se encontra uma maquete da fábrica e onde nos foi feita uma primeira introdução aos ingredientes usados pelas Central de Cervejas nas suas cervejas. Um dos orgulhos da Central de Cervejas é utilização exclusiva de ingredientes naturais na produção das suas cervejas, isto é, malte de cevada, cereais não maltados (milho), lúpulo e água. Não fosse a utilização de cereais não maltados em cervejas de fermentação baixa e a Central de Cervejas cumpriria a Reinheitsgebot (Lei da Pureza da Cerveja) que regulamentou a produção de cerveja na Alemanha desde o século XVI.


Seguimos depois por um corredor que atravessava a fabrica e de onde era possível ver a sala de provas, o depósito de propagação de leveduras e os depósitos de fermentação e de maturação. Passamos também por uma zona onde era recolhido o gás carbónico resultante da fermentação da cerveja, que posteriormente é usado para dar gás à cerveja, e finalmente pela zona de engarrafamento. Ao longo do percurso íamos encontrando expostos alguns artefactos históricos e museológicos relevantes para a história da Central de Cervejas.






Um dos contributos para este espólio veio da Trindade, estando exposta uma mesa original da Trindade posta com loiça e copos da cervejaria. Terminamos a visita num pequeno espaço museológico que serve também de sala de visitas. Aqui estão expostas as garrafas e latas das cervejas da Central de Cervejas e das empresas que lhe deram origem entre outros artefactos usados na produção de cerveja e alusivos à história da Central de Cervejas. Entre as garrafas expostas está aquela que foi a primeira garrafa de cerveja Sagres produzida, uma da primeiras máquinas de imperial em Portugal e réplicas dos painéis de vitrais do Gambrinus.




No final da visita ainda houve tempo para provar a cevada, os maltes em cru e os outros ingredientes da cerveja, o que permitiu perceber de onde vêm alguns dos sabores característicos da cerveja. Por esta altura já fazíamos nossas as palavras do slogan escrito por Ary dos Santos na década de 60: Sagres, a sede que se deseja. E assim cumprimos o nosso desejo matando a sede com as cervejas produzidas pela Central de Cervejas. Eu que até já tinha tirado umas imperiais noutras guerras lá fui armado em esperto a pensar que conseguia tirar a minha própria imperial preta e só me saiu espuma...


Confesso que não me revejo completamente naquela que parece ser a atual estratégia de comunicação e de produto da Central de Cervejas que é quase totalmente virada para o mercado de massas. A única aposta em produtos diferenciados e mais sofisticados é a Sagres Bohemia. As edições especiais como foi a Sagres Bohemia 1835 que comemorava os 170 anos da Cervejaria da Trindade já não fazem parte do portfolio da Central de Cervejas e recentemente só me apercebi de uns lançamentos fugazes de produtos como a Sagres Puro Malte e a Sagres Preta Chocolate que também já foram retiradas do mercado. Com o historial de marcas das Central de Cervejas e a sua ligação a algumas das cervejarias históricas de Lisboa, onde a cerveja era e ainda é usada para acompanhar a refeição, parece-me uma pena que não se invista mais em produtos mais sofisticados e gastronómicos. Percebo o foco no mercado de massas pois este tipo de produtos mais sofisticados serão sempre um mercado de nicho e de pouco volume mas acredito que pudessem trazer alguma notoriedade e ligação à marca em segmentos onde talvez não o tenha atualmente. Mas afinal de contas, o segmento de mercado dos apreciadores de cerveja preta que fazem cerveja em casa e que escrevem um blogue sobre vinhos e gastronomia, para quem este tipo de estratégia seria apelativo, deverá ser um segmento de mercado unipessoal...

Não é comparável esta visita com as visitas que fiz à Heineken Experience, à Guinness Storehouse ou ao Carlsberg Museum. Enquanto estas estão instaladas em fábricas desativadas em zonas centrais das cidades, aqui estamos a falar de uma visita a uma instalação industrial em atividade fora da cidade de Lisboa. Mas se as outras são experiências multimédia muito bem conseguidas, a visita à Central de Cervejas mostra-nos o processo de produção tal como ele é e faz um apelo muito forte e emotivo à nossa memória coletiva no espólio exposto. Pela riqueza do património parece-me haver espaço para tornar ainda mais atrativa esta visita sem prejudicar a laboração da unidade o que poderia ser uma mais valia ainda maior para a marca. A Central de Cervejas e esta fábrica têm um património e uma história que merece ser conhecida não só pela nossa ligação emocional à marca e aos seus símbolos mas também pelas ligações a artistas que deixaram a sua marca na Central de Cervejas, como Eduardo Nery e Ary dos Santos. As visitas são gratuitas devendo ser marcadas através dos contatos disponíveis no site da Central de Cervejas. Vão lá e bebam uma Sagres Preta.

Ingrediente Secreto 2 - www.wook.pt

2 comentários:

  1. Caro Rui, agradecemos imenso o seu delicioso artigo sobre a experiência da sua visita à nossa fábrica de cerveja Sagres. Foi um prazer recebê-lo e deixamos desde já as portas abertas para regressar quando e com quem quiser. Cumprimentos da equipa de Relações Institucionais e um bem-haja pessoal.
    Luis Cardoso, New Media Manager

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    Respostas
    1. Luis,

      Foi um prazer visitar-vos e fico contente que tenham gostado do que escrevi.

      Um dia destes voltarei para vos visitar de novo.

      Um abraço,

      Rui Barradas Pereira

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