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Prova de Moscatéis JMF no Peixe em Lisboa 2013

Já passaram quatro meses mas os últimos meses tem sido férteis em coisas para contar e o tempo livre não têm sido suficientemente fértil para dar vazão à escrita. Como o moscatel é um vinho paciente e a requerer de nós muita paciência, estes quatro meses não são nada e escrever hoje é quase o mesmo do que escrever no próprio dia da prova. Com a vantagem que assim estas palavras também já envelheceram nos cascos da memória. Um estágio, no entanto, curto quando comparado com o estágio destes vinhos.

Prova de Moscatéis JMF no Peixe em Lisboa 2013 - reservarecomendada.blogspot.pt

Como já leram por , todos os anos faço questão de passar um dia no Peixe em Lisboa e uma das coisas que nesse dia também têm acontecido quase sempre é uma prova de vinhos da José Maria da Fonseca com o Domingos Soares Franco que como patrocinador principal do evento têm tido a seu cargo a grande maioria das provas do evento desde as primeiras edições. Acho que só na primeira edição é que não fiz nenhuma prova com o Domingos Soares Franco no Peixe em Lisboa. Dependendo do ano e da prova programada para o dia em que vamos, tenho feito provas com os vinhos da Colecção Privada, com os Moscatéis e provas épicas a cobrir quase toda a gama da José Maria da Fonseca. Apesar de muitos dos vinhos que vou provando nestas provas já serem meus conhecidos é sempre delicioso ouvir o Domingos Soares Franco a contar algumas das histórias destes vinhos.

Iriam estar em prova sete moscatéis e apesar de ser apreciador de moscatéis e de conhecer relativamente bem os moscatéis existentes no mercado e em especial os moscatéis da José Maria da Fonseca, havia duas referencias que nunca tinha provado. Muito interessante foi a ordem em que os vinhos foram apresentados em que se procurou realçar as diferenças entre os vários vinhos de acordo com as opções de vinificação e estágio que foram seguidas para cada vinho.

Começámos com uma série de três vinhos em que se procurava mostrar como as diferenças da aguardente usada se refletiam nos vinhos. A regulamentação da denominação de origem do Moscatel de Setúbal é um pouco mais permissiva de que a regulamentação do Vinho do Porto e enquanto para o vinho do Porto é obrigatório o uso de aguardente vínica neutra, no Moscatel de Setúbal é permitido o uso de aguardente vínica tendencialmente neutra. Esta subjetividade na definição do que é uma aguardente tendencialmente neutra abriu espaço ao Domingos Soares Franco para inovar e reinventar o Moscatel. Sabendo de experiências bem sucedidas no Douro na utilização de aguardentes provenientes das regiões de Conhac e Armanhac efectuadas por um enólogo amigo, o Domingos Soares Franco decidiu testar a ideia com o Moscatel. Por respeito ao amigo pediu-lhe autorização para copiar a ideia que não poderia ser posta em prática no Douro e um dia partiu para França para aprender ainda mais sobre aguardentes com um distribuidor francês que já lhes fornecia aguardentes. Selecionou lotes de Armanhac e Cognac e pediu ao distribuidor para faturar estes lotes juntamente com a aguardente vínica neutra que habitualmente compravam fazendo um preço por litro médio de maneira a que ninguém soubesse que estavam a ser comprados diferentes lotes de aguardente. Apenas um grupo muito restrito de pessoas da equipa enológica sabia disto e segundo o Domingos nem o próprio irmão António tinha conhecimento desta experiência. O irmão António ainda terá estranhado o preço da aguardente nesse ano... Passando um ano o Domingos deu provar ao seu irmão este lotes de moscatel e o resto é história.

Assim tínhamos à prova três vinhos fortificado com três aguardentes diferentes: o Alambre 2008 fortificado com aguardente vínica neutra, o Domingos Soares Franco Colecção Privada Moscatel de Setúbal 1999 fortificado com Conhac e o Domingos Soares Franco Colecção Privada Moscatel de Setúbal 2006 fortificado com Armanhac.

Moscatel - reservarecomendada.blogspot.pt

Começamos com o Alambre 2008, um velho conhecido com o qual andava um pouco desavindo pois os últimos que tinha provado, de anos recentes, tinham um perfil muito floral e doce, ligeiramente enjoativo, que é comum nos moscatéis jovens de planície e solos arenosos. Nesta edição de 2008 o Alambre mostra uma cor avelã e apresenta-se sem surpresas como um moscatel jovem provavelmente de solos arenosos e de planície. Doce e floral como é habitual nesta gama sem no entanto se tornar excessivo e enjoativo. Revelou uma maior evolução do que é habitual nesta gama. Revelou-se um boa surpresa e reconciliei-me com ele. A relação qualidade-preço deste moscatel é extraordinariamente boa.

O Domingos Soares Franco Colecção Privada Moscatel de Setúbal 1999 fortificado com Conhac é um vinho que não está disponível no mercado português sendo exclusivamente fornecido a uma empresa de cruzeiros do norte da Europa, cliente da José Maria da Fonseca. Quando chegou a altura de colocar no mercado o resultado das suas experiências com Conhac e Armanhac o Domingos optou por colocar no mercado os moscatéis fortificados com Armanhac ao fim de cerca de 6 anos de estágio e guardar os lotes fortificados com Conhac para usar em moscatéis velhos. Segundo o Domingos, a impressão que têm é que se o Armanhac dá ótimos resultados em vinhos com estágios mais curtos, o Conhac deverá dar melhores resultados em vinhos com estágios mais longos. Assim quando essa empresa de cruzeiros lhe pediu um produto distinto e exclusivo para colocar à venda nos seus barcos o Domingos sabia exatamente o que lhe fornecer. Com a cor dourada ligeiramente alaranjado surpreendentemente claro para um vinho com 13 anos. Têm uma boa acidez e deixa na boca um travo a laranja. Muito fresco e elegante. De entre os moscatéis mais novos na prova (menos de 20 anos...) foi o que mais me agradou. E basta fazer um cruzeiro nos fiordes para o poder provar...

Terminamos esta viagem pelas aguardentes usadas para fortificação dos moscatéis da José Maria da Fonseca com o Domingos Soares Franco Colecção Privada Moscatel de Setúbal 2006 fortificado com Armanhac. Este moscatel acabou ser a ponta deste iceberg. Foi a primeira destas experiências a ser lançada para o mercado e a ser a face visível desta (r)evolução. Apresenta uma cor dourada ainda mais clara que a do seu irmão mais velho fortificado com Conhac. Provavelmente uma questão de juventude mas também a mostrar elegância. Um pouco mais floral e doce que o seu irmão mais velho, acho que ainda gostaria de ficar a dormir na garrafa mais uns tempos. Acaba por ser injusto compara-los devido à diferença de idade.

Enquanto escrevia isto atrevi-me a pensar: - Então e moscatel fortificado com aguardente da terceira região demarcada de aguardentes no mundo?... Era giro ver a Lourinhã (ou Lourinhac como é por vezes carinhosamente chamada) juntar-se ao Moscatel.

O moscatel seguinte era servido nesta ordem para fechar uma sequência de quatro moscatéis todos feitos com base no Moscatel de Alexandria. Alambre 20 Anos é um velho cúmplice. Este vinho feito a partir de um lote de 20 vinhos em que o mais novo teria 23 anos de estágio na altura de engarrafamento e o mais velho teria 80 anos é uma verdadeira preciosidade quase acessível. Continua em grande forma este amor em tons avelã escuro. Na boca mostra boa acidez e revela-se super guloso na boca. Não é fácil transformar o amor numa nota de prova...


Se os vinhos anteriores tinham como base o Moscatel de Alexandria, os dois seguintes tinham como base Moscatel Roxo uma versão rosada do Moscatel de Alexandria. Pensa-se que o Moscatel Roxo tenha tido como origem uma mutação do Moscatel de Alexandria embora ninguém tenha conseguido determinar ao certo a sua origem. Durante algum tempo esteve em risco de extinção existindo apenas pequenas parcelas dispersas pelos vários produtores da região. Em 1991 terá sido plantada uma pequena vinha de 2,2 ha de Moscatel Roxo na Quinta dos Foios que constituía na altura maior vinha da casta. A plantação desta vinha terá sido um ponto de viragem para esta casta tendo sido a partir desta altura que se voltou a ouvir falar dela com mais frequência. Atualmente o Moscatel Roxo já não parece estar em perigo de extinção embora de qualquer modo as quantidades produzidas sejam bastante limitadas.

O primeiro destes dois vinhos a ser provado foi o Domingos Soares Franco Colecção Privada Moscatel Roxo 2004. Este vinho é a bandeira do reaparecimento desta casta e deu-lhe uma notoriedade que não tinha apesar de já ser reconhecida a qualidade dos generosos produzidos com ela. Irmão dos outros dois moscatéis da Colecção Privada neste caso a aguardente usada para o fortificar é aguardente vínica neutra. Na opinião de Domingos Soares Franco o armanhac usado no Domingos Soares Franco Colecção Privada Moscatel de Setúbal não ligaria muito bem com o Moscatel Roxo. Mostra-se avelã claro, revelando aromas a casca de laranja e um toque de ananás. Na boca prolonga-se com uma boa acidez. É um velho conhecido que é sempre um prazer voltar a provar.


Seguimos com o Moscatel Roxo 20 Anos cujo atual lote já tinha provado pouco tempo após o seu engarrafamento na prova de Moscatéis da José Maria da Fonseca do Peixe em Lisboa 2011. Se a minhas notas não me atraiçoam este lote é constituído por vinhos em que o mais novo têm 22 anos e o mais velho 75 anos. Com tons de café claro leva ao nariz notas de café e caramelo. Com uma acidez que perdura na boca, é como se ficassem a rebolar pela boca rebuçadinhos de café. Seria um final perfeito não fosse...


Não fosse terminarmos com o Trilogia... O Trilogia lançado para o mercado no virar do milénio junta no mesmo lote aquelas que serão as três melhores colheitas do século XX: 1965 que entra com 70% do lote, o 1934 com 15% e o 1900 com outros 15%. Assim o vinho mais novo tinha 34 anos à data de engarrafamento e o mais velho quase 100 anos. Este vinho é um símbolo do que foi o moscatel da José Maria da Fonseca no século XX e até por coincidência a média ponderada dos anos das colheitas dá precisamente 1950. Só a José Maria da Fonseca conseguiria fazer um moscatel como este pois mais ninguém têm um acervo que permita fazer um lote assim. Cor de café ligeiramente turvo mas surpreendentemente brilhante. Sentem-se aromas a café e caramelo e na boca mostra uma acidez surpreendente e uma frescura incrível. Por esta altura já me faltam adjetivos para definir este vinho... Deixo-vos ficar com a última frase da ficha técnica da José Maria da Fonseca sobre este vinho que me parece exprimir o que ele é: "Longevidade Prevista: Indeterminável. Um Setúbal com estas características pode e deve viver para sempre."

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